quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que é Podolatria?

Tarefa 01 - realizada por klarissa { K@ } *

Responda sem pensar: qual é o fetiche preferido do brasileiro? E o do norte-americano? Se você cravou bunda para primeira pergunta e peito para a segunda, muito provavelmente, errou. Pesquisas sobre o tema são raras, mas há indícios de que os pés estão no topo do ranking das taras mais apreciadas no mundo ocidental. Apesar disso, a podolatria, como é chamada a adoração aos pés, não é explorada em propagandas de cerveja ­ monótonas na insistência em mostrar mulher gostosa -, quase nunca é protagonista em ensaios fotográficos sensuais (a não ser em alguns espaços bem específicos, como o BDSM) e está longe da visibilidade que merecia ter pela alta voltagem erótica que atinge.

E por que isso ocorre? Afinal, os pés podem andar nus, obscenos sem ser pornográficos; equilibrados em salto agulha, em saborosa representação de poder; envolvidos em tiras finas, sugerindo aquele algo mais... Enfim, caminham por várias trilhas da estimulação sexual, modulando a imaginação com mais ou menos intensidade. Acontece que a podolatria, embora presente em muitas fantasias eróticas, das comportadas às safadas, carrega o estigma de perversão, portanto, passível de censura, seja ela declarada ou dissimulada. O tesão pelos pés é considerado uma parafilia. De cara, a palavra assusta, pois define um padrão de comportamento sexual em que a satisfação não está no vaivém da cópula, mas em outras fontes, o que soa "antinatural" ao senso comum.







Para atrapalhar um pouquinho mais, o guarda-chuva das parafilias abriga preferências bem cabeludas, ao lado de outras, digamos, compreensíveis. Assim, vemos extremos como a esquisita coleopterafilia (atração sexual por besouros... hãããã!!!) no mesmo barco que o, até certo ponto, divertido voyeurismo (prazer em observar a intimidade de outras pessoas). Então, associar podolatria a desvio ou doença é fácil, especialmente quando o assunto é tratado com a parcimônia de um “enigma da humanidade”.

Mas, para sossego geral, os conceitos estão mais flexíveis e elásticos. Hoje, as parafilias, ou boa parte delas, fazem parte da psiquê humana e só são tidas como patológicas quando "envolvem perigo para o praticante ou parceiro ou implicam em crime ou abuso”. E, se serve de consolo aos incompreendidos apaixonados por pés, vale lembrar que os já rotineiros sexo oral, sexo anal e masturbação foram considerados parafilias em algum momento.

Então, vamos ao que interessa: a podolotria está entre as modalidades mais criativas e diversificadas de fetiche, podendo ser bruta ou lapidada, simples ou complexa, leve ou intensa, especializada ou intuitiva... O repertório é infinito. O foco principal pode estar nas solas, nos dedos, nos artelhos, nas curvas, no cheiro, na cor, nos calcanhares, no formato, na textura, nas unhas... E em tudo isso junto. Pés bem cuidados, cheirosos e calçando sapatos incríveis atiçam a imaginação de um determinado perfil de fetichistas. E há o oposto: os que ficam enlouquecidos ao serem levados a encarar pés sujos, dedos suados, solas grossas, calos... Definitivamente, o que não cabe na podolatria é neutralidade.

Estima-se que os homens sejam a maioria dos podólatras, mas as mulheres também comparecem com as suas predileções fetichistas, ainda que mais discretamente. No livro Fetiche - Moda, Sexo e Poder (Rocco), a norte-americana Valerie Steele arrisca a proporção de dois por um, ou seja , dois homens para uma mulher fetichista. O estudo fala de fetiches em geral, mas como a podolatria está entre as categorias com maior torcida em campo, dá para imaginar que nesse clubinho feminino exista uma parcela delas disposta a colocar os pezinhos do parceiro no altar. Calcula-se que cerca de 30% dos praticantes sejam mulheres.  

No Brasil, um trabalho sobre o tema frequentemente mencionado é o da terapeuta Deise Gê. Em estudo realizado com 1500 homens, entre 18 e 60 anos, ficou demonstrado que pés e sapatos são os principais fetiches dos brasileiros. Dá para arriscar que um par havaianas tem mais potencial erótico do que um fio dental. Brincadeiras à parte, a tendência foi captada também por pesquisadores da Universidade de Bolonha, na Itália, que confirmaram os pés como a parte do corpo mais desejada sexualmente pelos homens.

E por que a podolatria seria mais popular do que a quirofilia (fetiche por mãos) ou pogonofilia (por barbas)? E não poderia haver algo como umbigofilia ou nucafilia também? Quem apresentou uma boa explicação para a supremacia dos pés entre os fetiches foi o neurocientista indiano Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia. Ele descobriu que áreas do cérebro associadas ao aparelho sexual são vizinhas das regiões responsáveis pelos pés. Daí, segundo descreve na obra Fantasmas no cérebro: uma investigação dos mistérios da mente humana (Editora Record), essas duas áreas se comunicam frequentemente.

Saindo da academia e já roçando o BDSM, vemos todo tipo de pezinho ocupando lugar de honra, ao lado da bunda, no pedestal das partes preferidas do corpo para exercícios sadomasoquistas.  E não é de se admirar. Por aqui os fetiches não encontram muitos impedimentos e as fantasias grassam mais livres. Comprovado ou não, o homem submisso parece ser o grupo mais tarado por pés que existe. E, diante do seu objeto de desejo, ele topa tudo.  Lambe, cheira, massageia, venera os pés do Dominador (a)... Quanto maior a humilhação, mais se sentem realizados. Nesse contexto, aceitam receber castigos cruéis nos próprios pés e suportam as versões mais estridentes de bastinado. 

Como em algumas atividades sadomasoquistas, atingir o orgasmo não é a meta principal. A composição de uma cena, os rituais, o conjunto de códigos, o duo posse-entrega, as cerimônias, a liturgia são elementos muito mais valorizados do que o simples “chegar lá”. Entre os podólatras, a exceção é o footjob, uma "brincadeira" que consiste em ter o pênis massageado com os pés pelo parceiro até alcançar à ejaculação. Mas aí a coisa fica mais parecida com masturbação.

Já, no Reino de K@ impera um estilo especial de podolatria. O Mestre k@ é podólatra assumido, mas seu prazer consiste em submeter a submissa às diversas sensações provocadas pelos pés. Nos encontros reais, ela é obrigada a lamber as suas solas, que podem estar exalando sabonete, besuntadas com pimenta, sujas de terra ou, se a escrava estiver com sorte, lambuzadas de chocolate. Ainda é possível que ela seja agraciada com uma estimulante massagem para, minutos depois, ter seus pezinhos duramente punidos com alfinetes, alicate e elástico - os três "instrumentos de tortura" mais apreciados por Ele. Nesse caso, a vertente sádica do Dominador convive muito bem com a sua aclamada podolatria. E isso confirma o que foi dito: trata-se de uma fantasia ampla, múltipla, requintada. Se bem explorada, é única.

*Este artigo é baseado em diferentes estudos e pesquisas, explorados livremente pela autora, sem o compromisso de realizar um trabalho acadêmico sobre o assunto.

Fontes:









17 comentários:

  1. Revendo a tarefa, vejo que não consegui segurar a mão e me estendi mais do que pretendia. Gostei muito de escrever sobre esse tema, mas não foi muito fácil. A maioria do material sério disponível sobre o assunto é da área de psicologia, portanto, foi um desafio passar pelas pesquisas acadêmicas, entrar no BDSM e chegar ao Reino de K@. É conversa que não acaba mais. Prometo que nas próximas serei breve. bjs
    klarissa { K@ }

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  2. klarissa...

    Pode até achar que se estendeu, mas está uma delícia de ler... Parabéns pela excelente tarefa. Adorei. Beijos

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  3. Parabéns, o texto ficou perfeito!
    kaliza { K@ }

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  4. Obrigada, princesa. É muito estimulante saber que você gostou. bj...

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  5. Obrigada, kaliza!
    Seu comentário é muito generoso.
    klarissa { K@ }

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  6. Minha klarissa,

    o texto ficou muito bom... parabéns! Como sempre um texto claro, divertido e gostoso de ler... pisc!!!

    BeijoK@sss, seu Dono!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Obrigada, Mestre!

    Isso significa menos elastiquinhos?

    Beijos Submissos em Seus Poderosos Pés

    klarissa { K@ }

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  9. klarissa


    Amei o texto....até conversei com o Mestre a forma magistral que você escreve...são textos sempre muito claros misturados ao seu jeito brincalhão que eu gosto muito. Esse bom humor me chama muito a atenção porque fica mais gostoso de ler...


    Parabéns!!!!


    Beijinhos


    karla { K@ }

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  10. Karlíssima!

    Muito obrigada! Eu também admiro demais os seus contos e relatos. É uma qualidade especial a descontração e picardia com que você conta as histórias. Você escreve com a libido. No blog do empréstimo deu um show.

    Parabéns!

    klarissa { K@ }

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  11. klarissa,

    texto maravilhosos e esclarecedor. Parabéns, como sempre.

    kaciara { K@ }

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  12. Obrigada, kaciara!
    Você me estimula muito.
    bjbjbjbj
    klarissa { K@ }

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  13. Eu te estimulo klarissa? Rss acho que não!

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  14. kaciara,

    Você não só me estimula como me inspira. É muito bom receber um elogio aqui. O BDSM ainda é um baita desafio pra mim, pois estou nunca sei se o que eu estou escrevendo é relevante ou lugar comum... rsrs...

    bj lindinha

    klarissa { K@ }

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  15. Klarissa,

    puxa, além de te estimular ainda te inspiro? Ganhei meu dia rsrs... Saiba que o BDSM é um desafio não só para vc, para mim é igualmente desafiante. Para viver alguma coisa no Reino, não tem sido fácil! O que vc escreve sim é inspirador!! Gosto muito de ler seus trabalhos, vc escreve de forma gostosa e divertida.

    Beijos Lindona!

    kaciara { K@ }

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  16. Amei o post! Muito esclarecedor e gostoso de ler! Vou contar um segredo! (Que vai deixar de ser um a partir de agora, mas meu marido sabe! kkkkkk). Sinto um tesão imenso na área da cutícula, passar qq objeto pontiagudo, de preferência frio, em torno das unhas... OMFG! Morri! kkkkkk...

    Parabéns Klarissa {K@}! Seu texto está The Best. Bjk@s.

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  17. Bom dia, krika 68

    Tesão na cutícula é realmente uma novidade. Isso mostra como a podolatria é fértil. Da próxima vez que escrever sobre isso vou me lembrar de você.

    Obrigada pela visita, pela leitura, pelo generoso comentário.

    klarissa { K@ }

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